Saturday, November 03, 2007

O Partido Comodista Português


Sinto-me semanalmente mais perplexa. O desempenho ridículo de alguns ministros deste governo, fazem-me perguntar sobre o porquê das suas nomeações e já agora pela respectiva vocação profissional.


É que já nem é a legitimidade das ideologias que está em causa. Trata-se apenas da falta de seriedade e sejemos realistas, de competência com que desempenham as suas funções.

Para quem se interessa pela estupidez alheia, ou melhor pelo porquê dos genes indiscutivelmente antropicos dos becos parlamentares, deixo aqui um excerto de uma cronica escrita há mais de 20 anos por um dos mais brilhantes escritores portugueses, e que permanece fatídica e surpreendentemente actual. Só resta saber se este tipo de sufrágio apatetado durará para sempre... seria de facto cómico se não fosse trágico.


(...)


O maior partido político português é o partido comodista português. O partido comodista português tem duas grandes facções: A direita almoçadora e a esquerda gorda. Tanto a direita almoçadora como a esquerda gorda têm características comuns. A primeira não é de direita da mesma maneira que a segunda não é de esquerda. Ou seja: nem uma nem outra têm quaisquer convicções. A isto chamam, enquanto almoçam, não serem dogmáticos. Ou seja, estao-se nas tintas. A isto chamam, enquanto pedem um whisky em balão, serem pragmáticos.
A direita almoçadora é constituída por meninos e meninas muito irritantes que trabalham imenso e querem imenso reformar-se aos 35 anos. Têm imenso dinheiro e só nao têm imensas ideias. Aqui entra a esquerda gordinha, num colchão de espuma vinda das distantes tempestades do marxismo. A esquerda gordinha dá à costa, repimpa-se, instala-se e, durante o almoço, dá imensas ideias. O bancário da direita almoçadora joga perfeitamente com o imaginário da esquerda gorda.

A direita convidante convida a esquerda encantada a vir almoçar para falar. E a esquerda encantada, porque também sabe ser aceitante, aceita.
A direita do dinheirinho é ignorante e pensa que a esquerda lhe vai transmitir cultura. Aliás, uma das provas da ignorancia da direita financiante é julgar que a esquerda jantante é culta.

O partido comodista portugês é assim constituido pela esquerda que preferia ser direita e pela direita que preferia ser esquerda, porque nem uma nem outra sao nada. É o situacionism pós-moderno, adequado a uma época em que dinheiro e cultura tendem a assimilar-se e mastigar-se; isto é, o dinheiro dos que nem sequer sabem ser ricos, e a cultura dos aldrabões que nem sequer sabem ser bons.

O partido comodista português, feito de acomodações e adaptações, do deixa lá e do deixa andar, é o contrário da política que deveria ser conflito, diferença, disputa clara de opiniões.
Os comodistas gostam de se apresentar como se estivessem acima de tudo. E estao. São, acima de tudo, poltrões, com os rabos gordos sentados em cima de tudo, abafando o formigueiro da vida.

in Os meus problemas
Miguel Esteves Cardoso

2 Comments:

Blogger Hermenêutica said...

Assino por baixo tudo o que foi dito. Estou também profundamente desiludida com a politica portuguesa. Cada vez mais deixam de existir convicções politicas, sejam elas de esquerda ou de direita, e sim interesses politicos.

Ps: vê o e-mail q te mandei cadela!

2:53 PM  
Blogger tchitchilover said...

Sim, mas todos se esquecem que a maior parte das bases dos partidos políticos depois de acabarem as aulas da faculdade iam para as sedes debater ou colocar panfletos enquanto nós vamos para a sache tomar café.

O que eu estou a tentar dizer é que não basta criticar por criticar. Há que perguntar o que é que cada um de nós faz para mudar a situação.

????

Foi o que eu pensei.

10:48 PM  

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