Macumba de Galinha Frita
18/06/07 – Novas vizinhas chegam à rua Martim Moniz e montam o seu espectáculo circense mesmo em frente a minha casa. Estátuas de Nossas Senhoras azuladas, tapetes de Iemanjá duvidosos, Búzios da praia de Curitiba e eu assisto à junção harmónica do Profano com o franchising anedótico da Igreja Universal do Reino de Deus.
Lê-se a sina, evocam-se cânticos espíritas e as bruxas estão portanto para ficar.
19/06/07- Acordo e delicio-me com 3 fatias de cheesecake de framboesa. Um exagero inconsequente e que me iria custar caro mais tarde, mas as minhas manhãs de 6 da tarde são para ser desfrutadas com prazer.
Horas depois estou obviamente com um maremoto de corantes no estômago e a vomitar uma bílis amarela cujo odor hediondo ainda me provoca náuseas. Bílis. Sempre achei essa palavra estranha e ligeiramente obscura. (…)
Passei os dias seguintes a dormir agarrada a uma bacia de plástico epidémico e a sentir-me a pessoa mais infeliz do mundo.
21/06/07- Por entre uma recuperação ainda débil e obviamente injusta, volto a estigmatizar-me com a incumbência necessária dos exames e tento levar avante o meu diálogo interminado com Descartes sobre a descontinuidade abrupta entre consciência e não consciência. Opto de uma forma sensata pela não consciência momentânea e decido tirar uma merecida sesta.
Durmo profundamente extasiada e produzo no cérebro níveis de hemoglobina certamente superiores ao normal. Estou com algumas amigas numa casa enorme e isolada e estamos todas envolvidas no escárnio e chacota habitual das nossas tardes, quando subitamente se ergue a voz mais alta da heresia pagã. Chovem copos de vidro do tecto que se partem e repartem por moedas de prata escura que nos silenciam horrorizadamente a fala.
Saio cá para fora. Caminho a medo ainda uns minutos e de repente o mesmo chão em que antes caminhava transforma-se num amontoar desenfreado de galinhas. Galinhas. Precisamente aquele animal absurdo da natureza que tem asas e não voa mas que persiste no mundo dos vivos se lhes cortarem a cabeça. Galinhas….
Sem ainda uma qualquer reacção consistente para além do legítimo enojar cáustico da faringe e do pós boca, piso-lhes negligentemente a cabeça. Para meu inconsolável espanto elas efectivamente insistem com a sua permanência no planeta uma vez que a própria cabeça se subleva, rodopia e ela mesmo se auto encarrega de se transformar num incompreensível ovo estrelado.
(????!!...)
Perfeitamente incrédula e aterrorizada fujo a correr para a casa, amaldiçoando os milhares de cigarros em mim carbonizados e que agora me bloqueiam o ar para os pulmões. Paro. A porta deixou de existir, dando lugar a uma escada. Subo-a sem pressas e quando chego ao topo ouço a frase que me fez escrever este post e que me continua a atormentar o intelecto com letras de power point gigantes... O Diabo só aparece quando dele tens medo!... Acordo.
Dirijo-me para a sala apavorada e com o ainda síndrome de infelicidade que a bílis provoca.
- Mãe!... Não está bem a ver o pesadelo que acabei de ter. Sinistro, dava um desfecho genial para um filme de terror.
(…)
(tom escarninho e de gozo) – Olha se calhar foi da canja de galinha que andaste a comer nos últimos dois dias! …
A CANJA! Não quis acreditar, eu realmente andava a ingerir só e unicamente canja de galinha nos últimos 2 dias! Não podia ser coincidência…. (…)
Dirijo-me para a cozinha para o meu 1º jantar decente em horas de vida atribulada e reparo que a minha mãe teve a ideia genial de fazer redon de frango (restos de ontem em linguagem mercantilista) com o que tinha sobrado da canja e de outros galinhais.
Ia-a obviamente esganando mas optei pela tosta mista há muito ambicionada. Dirijo-me à varanda para fumar um cigarro e vejo por Infortúnio de Deus ou por partida divertida do Diabo uma galinha agachada na pindérica cortina de arraiolos da loja das bruxas.
Voltei para dentro mais uma vez incrédula, quase que vomitei mais bílis amarela e o Descartes, com esse provavelmente vou ter um encontro marcado no exame de recurso em Julho.
Agora serão as coincidências mesmo coincidências ou a voz do absurdo a empanturrar-nos os sentidos?
Lê-se a sina, evocam-se cânticos espíritas e as bruxas estão portanto para ficar.
19/06/07- Acordo e delicio-me com 3 fatias de cheesecake de framboesa. Um exagero inconsequente e que me iria custar caro mais tarde, mas as minhas manhãs de 6 da tarde são para ser desfrutadas com prazer.
Horas depois estou obviamente com um maremoto de corantes no estômago e a vomitar uma bílis amarela cujo odor hediondo ainda me provoca náuseas. Bílis. Sempre achei essa palavra estranha e ligeiramente obscura. (…)
Passei os dias seguintes a dormir agarrada a uma bacia de plástico epidémico e a sentir-me a pessoa mais infeliz do mundo.
21/06/07- Por entre uma recuperação ainda débil e obviamente injusta, volto a estigmatizar-me com a incumbência necessária dos exames e tento levar avante o meu diálogo interminado com Descartes sobre a descontinuidade abrupta entre consciência e não consciência. Opto de uma forma sensata pela não consciência momentânea e decido tirar uma merecida sesta.
Durmo profundamente extasiada e produzo no cérebro níveis de hemoglobina certamente superiores ao normal. Estou com algumas amigas numa casa enorme e isolada e estamos todas envolvidas no escárnio e chacota habitual das nossas tardes, quando subitamente se ergue a voz mais alta da heresia pagã. Chovem copos de vidro do tecto que se partem e repartem por moedas de prata escura que nos silenciam horrorizadamente a fala.
Saio cá para fora. Caminho a medo ainda uns minutos e de repente o mesmo chão em que antes caminhava transforma-se num amontoar desenfreado de galinhas. Galinhas. Precisamente aquele animal absurdo da natureza que tem asas e não voa mas que persiste no mundo dos vivos se lhes cortarem a cabeça. Galinhas….
Sem ainda uma qualquer reacção consistente para além do legítimo enojar cáustico da faringe e do pós boca, piso-lhes negligentemente a cabeça. Para meu inconsolável espanto elas efectivamente insistem com a sua permanência no planeta uma vez que a própria cabeça se subleva, rodopia e ela mesmo se auto encarrega de se transformar num incompreensível ovo estrelado.
(????!!...)
Perfeitamente incrédula e aterrorizada fujo a correr para a casa, amaldiçoando os milhares de cigarros em mim carbonizados e que agora me bloqueiam o ar para os pulmões. Paro. A porta deixou de existir, dando lugar a uma escada. Subo-a sem pressas e quando chego ao topo ouço a frase que me fez escrever este post e que me continua a atormentar o intelecto com letras de power point gigantes... O Diabo só aparece quando dele tens medo!... Acordo.
Dirijo-me para a sala apavorada e com o ainda síndrome de infelicidade que a bílis provoca.
- Mãe!... Não está bem a ver o pesadelo que acabei de ter. Sinistro, dava um desfecho genial para um filme de terror.
(…)
(tom escarninho e de gozo) – Olha se calhar foi da canja de galinha que andaste a comer nos últimos dois dias! …
A CANJA! Não quis acreditar, eu realmente andava a ingerir só e unicamente canja de galinha nos últimos 2 dias! Não podia ser coincidência…. (…)
Dirijo-me para a cozinha para o meu 1º jantar decente em horas de vida atribulada e reparo que a minha mãe teve a ideia genial de fazer redon de frango (restos de ontem em linguagem mercantilista) com o que tinha sobrado da canja e de outros galinhais.
Ia-a obviamente esganando mas optei pela tosta mista há muito ambicionada. Dirijo-me à varanda para fumar um cigarro e vejo por Infortúnio de Deus ou por partida divertida do Diabo uma galinha agachada na pindérica cortina de arraiolos da loja das bruxas.
Voltei para dentro mais uma vez incrédula, quase que vomitei mais bílis amarela e o Descartes, com esse provavelmente vou ter um encontro marcado no exame de recurso em Julho.
Agora serão as coincidências mesmo coincidências ou a voz do absurdo a empanturrar-nos os sentidos?