Saturday, June 23, 2007

Macumba de Galinha Frita




18/06/07 – Novas vizinhas chegam à rua Martim Moniz e montam o seu espectáculo circense mesmo em frente a minha casa. Estátuas de Nossas Senhoras azuladas, tapetes de Iemanjá duvidosos, Búzios da praia de Curitiba e eu assisto à junção harmónica do Profano com o franchising anedótico da Igreja Universal do Reino de Deus.
Lê-se a sina, evocam-se cânticos espíritas e as bruxas estão portanto para ficar.

19/06/07- Acordo e delicio-me com 3 fatias de cheesecake de framboesa. Um exagero inconsequente e que me iria custar caro mais tarde, mas as minhas manhãs de 6 da tarde são para ser desfrutadas com prazer.
Horas depois estou obviamente com um maremoto de corantes no estômago e a vomitar uma bílis amarela cujo odor hediondo ainda me provoca náuseas. Bílis. Sempre achei essa palavra estranha e ligeiramente obscura. (…)
Passei os dias seguintes a dormir agarrada a uma bacia de plástico epidémico e a sentir-me a pessoa mais infeliz do mundo.

21/06/07- Por entre uma recuperação ainda débil e obviamente injusta, volto a estigmatizar-me com a incumbência necessária dos exames e tento levar avante o meu diálogo interminado com Descartes sobre a descontinuidade abrupta entre consciência e não consciência. Opto de uma forma sensata pela não consciência momentânea e decido tirar uma merecida sesta.

Durmo profundamente extasiada e produzo no cérebro níveis de hemoglobina certamente superiores ao normal. Estou com algumas amigas numa casa enorme e isolada e estamos todas envolvidas no escárnio e chacota habitual das nossas tardes, quando subitamente se ergue a voz mais alta da heresia pagã. Chovem copos de vidro do tecto que se partem e repartem por moedas de prata escura que nos silenciam horrorizadamente a fala.

Saio cá para fora. Caminho a medo ainda uns minutos e de repente o mesmo chão em que antes caminhava transforma-se num amontoar desenfreado de galinhas. Galinhas. Precisamente aquele animal absurdo da natureza que tem asas e não voa mas que persiste no mundo dos vivos se lhes cortarem a cabeça. Galinhas….

Sem ainda uma qualquer reacção consistente para além do legítimo enojar cáustico da faringe e do pós boca, piso-lhes negligentemente a cabeça. Para meu inconsolável espanto elas efectivamente insistem com a sua permanência no planeta uma vez que a própria cabeça se subleva, rodopia e ela mesmo se auto encarrega de se transformar num incompreensível ovo estrelado.

(????!!...)

Perfeitamente incrédula e aterrorizada fujo a correr para a casa, amaldiçoando os milhares de cigarros em mim carbonizados e que agora me bloqueiam o ar para os pulmões. Paro. A porta deixou de existir, dando lugar a uma escada. Subo-a sem pressas e quando chego ao topo ouço a frase que me fez escrever este post e que me continua a atormentar o intelecto com letras de power point gigantes... O Diabo só aparece quando dele tens medo!... Acordo.

Dirijo-me para a sala apavorada e com o ainda síndrome de infelicidade que a bílis provoca.

- Mãe!... Não está bem a ver o pesadelo que acabei de ter. Sinistro, dava um desfecho genial para um filme de terror.

(…)

(tom escarninho e de gozo) – Olha se calhar foi da canja de galinha que andaste a comer nos últimos dois dias! …

A CANJA! Não quis acreditar, eu realmente andava a ingerir só e unicamente canja de galinha nos últimos 2 dias! Não podia ser coincidência…. (…)

Dirijo-me para a cozinha para o meu 1º jantar decente em horas de vida atribulada e reparo que a minha mãe teve a ideia genial de fazer redon de frango (restos de ontem em linguagem mercantilista) com o que tinha sobrado da canja e de outros galinhais.

Ia-a obviamente esganando mas optei pela tosta mista há muito ambicionada. Dirijo-me à varanda para fumar um cigarro e vejo por Infortúnio de Deus ou por partida divertida do Diabo uma galinha agachada na pindérica cortina de arraiolos da loja das bruxas.
Voltei para dentro mais uma vez incrédula, quase que vomitei mais bílis amarela e o Descartes, com esse provavelmente vou ter um encontro marcado no exame de recurso em Julho.

Agora serão as coincidências mesmo coincidências ou a voz do absurdo a empanturrar-nos os sentidos?

Ciclo Menstrual do Entendimento


Ai que me dói o comichão
Neste suicidar feliz de higiene
Entre problemas capilares e falsa circuncisão
Vejo que se me acabou o Pantene!!!....

Hahahahaha

É o vírus
É o vírus do anonimato
Que se insurge contra o mundo!
É o vírus, o vírus da pedra do sapato
Quando sou feliz e poeta vagabundo

É o síndrome das escolhas controversas
De neuroses sem cerimónia pessoal
Um hábito que esquece a caridade das conversas
Num Funéreo Desnudado Carnaval…

Hahahahaha

E um piiiiiolho saltitante
Banhado na alienação do meu couro cabeludo
Há um cavalgar vermelho doce e triunfante
Neste Conteúdo Epistémico Absurdo!...

Siiiim um micróbio principiante
Num cio errante de artérias
Fuma o ópio do leproso ignorante
De embriagadas e singelas bactérias….

E o piolho salta, afoga-se e ri
Num gracejar escarninho de afecto
Qual porco-bravo javardo ou javali
É o Piolho Bastardo que me escreve o soneto!!!!

Hahahahaha

Estes bichinhos do mato
Que me crescem ao desbarato
Como um cogumelo num prato
Ou num poiético desmazelo.
Estes parasitas que me divertem o cabelo
E me prendem o sapato
Num pesadelo mental
Num patético Boato!

Segue-se o insulto à pedrada
Numa enredo confuso com a Ralé.
É porém perdoável a calinada
São delírios anais e mais nada
talvez a Cabala ou preguiça de um bidé…

Hahahahaha e o expurgar e despoluir dos corpos
Num saneamento por demais idiota dos congressos
Fala a serpente que me corrompe de perversos versos
Nesta água Quente que me Suja e dilata os Poros!!!.....

E há um consumar Idiota de naftalinas e abortos
Nesta vontade de desconcertar a rotina dos sãos
São as minhas Garras sucumbidas à Ira do meu corpo
Neste descabelar impaciente de chãos…

E eu descabelo-me de ideias,
Eu descabelo-me de Mãos…

No Ciclo Menstrual do Entendimento
Há uma doutrina bisonha entre Higiene e Talento
Veio o feto que traz a cegonha
Num dia a dia sem vergonha
E com escassez de fundamento

Pois é da seiva que me alimento
num suicídio corpóreo e em Libertação
Meras tábuas raras do entendimento
Quando jaz vadio o poeta
No clerasil absíntico da razão.


Catarina Abranches de Soveral