Friday, August 24, 2007

Fotossíntese



Sai. Não te quero a entrar por essa porta de profecias.
Corre. Quero que corras longe
até te doerem as pernas do absolvimento sem causas.

Sofre neste balão de oxigénio que agora te empresto. Aguenta-te, comporta o asfixiar suportável do abandono. Quero-te feliz a implorar pelo ar esgotado que hoje tão eloquentemente te roubo.

Vai e experimenta a tirania absurda dos sorrisos de cólera.
Solta-te
liberta-te do entulho empanturrado dos dias, absorve o caos enormemente perfeito do mundo.

Vai e não te prendas com o aguçar desmascarado das palavras. Ou com sentimentos em vão traídos na esfera da saudade. Eu própria te concedo o dom do alumínio plastificado.
Vai e corre longe.
Sofrerás divertido na fuga, na neve branca e próspera dos olhares de cocaína. Serás um mártir das moléculas embebidas de descontentamento.

Vai e desliza nesse prosperar insólito de malmequeres cor-de-rosa.
Ilude-te com a virgindade das flores e dança
com as borboletas. Sim, eu própria também já as vi. Podes até rir-te com elas.
Quero-te longe. Fora das promessas emancipadas de dor.
Vai e corre longe. Um dia abrir-te-ei a porta naquele chiar demorado do tempo que diz tudo.

Wednesday, August 08, 2007

Marxism


put your marxism where your mouth is.
photo by: bruce la bruce

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Hoje li toda a tua correspondência. Todos aquelas cartas que queria ter sido eu a escrever.
apenas me posso projectar em sentimentos análogos que também foram um dia

Meus. nossos.

Julguei-te morta. Assustei-me com os mais de quinhentos mails não lidos. Sustive a respiração num cálice de pedra gelado até procurar respostas.

Foi suficiente.

Lavou-me a alma em lexivia destilada. Daquela que arde se engolida em demasia, mas que serve, dilata e cura.
Choro agora essa cura. As suas marcas ramificadas de um avultar sôfrego de memórias.

Gritam-me por dentro as palavras.
Não as consigo celebrar com talento por serem tão cruelmente puras. Sinto-me um espécime neandertal desfeito em emoções retardadas. Esse empilhar ingrato do tempo que nunca morre.

Estou perante uma honestidade de sentimentos que odeio. Não me deixam rodopiar livremente as palavras. Prendem-me em

verdade. Como é ridícula às vezes também esta palavra. Verdade de quê

e a culpa. A puta da culpa que nunca me deixa em paz. Puta que pariu a culpa e os seus eternos culpados.

penetro em sentimentos que já não quero nem desejo em mim. pesam-me enormemente nas pálpebras do sonho desnudado
Sinto-me a morrer num incessante morrer de tempo se os escrevo.
Não me dão prazer, não me divertem. São sentimentos de culpa.


Parte-me o silêncio como se não fosse um erro. Renuncia a essa paz conspurcada de aparências. Podes dar-me a mão que eu agarro. Agarro-a com a culpa e verdade dos dias de ontem.

23/06/07