Aniversário
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Distribui-se a alarvidade dos presentes, surge a imposição escabrosa do riso e a palavra parabéns soa neste caso como um arreduto simples de mera enunciação causal sem fazer jus à semântica por ela mesma enunciada.
Isso e os trinta e sete telefonemas estereotipados que recebo todos os anos.
A tal desavença fortuita da festa que só me faz cobiçar essa despreocupação simplista daqueles que vivem este dia de uma forma excessivamente ingénua.
Que não sentem o peso incomensuravelmente leve do abandono, do recomeço. Que não se sentem enormemente comprometidos perante esta trágica celebração da sua própria existência. A mais pura conspiração do universo para que um nada que se revolva, se faça explodir numa soberania de identidade e presença.
O prazer e o privilégio de cada momento que brota e desaparece no emaranhar inacabado dos dias… Engraçado toda esta tragicidade inerente ao nosso aniversário, a fragilidade com que se corta o bolo, a mortalidade das velas que se apagam, acendem e apagam…
Pode parecer estranho mas penso sempre na morte quando me cantam os parabéns.
E posso garantir que todas as velas são evidentes por si mesmas.
Finalmente a heresia dos 22.
Não podia estar mais feliz.
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