Friday, November 23, 2007

Aniversário

Engraçado este estigma mundano do aniversariante…o progresso concomitante dos dias traduzido nesse tão grande dia mais importante que tudo o resto. A repetição funesta da mesmidade do mesmo que já não é mesmo, passa a ser outro por uma burocracia de calendário.

Distribui-se a alarvidade dos presentes, surge a imposição escabrosa do riso e a palavra parabéns soa neste caso como um arreduto simples de mera enunciação causal sem fazer jus à semântica por ela mesma enunciada.

Isso e os trinta e sete telefonemas estereotipados que recebo todos os anos.
A tal desavença fortuita da festa que só me faz cobiçar essa despreocupação simplista daqueles que vivem este dia de uma forma excessivamente ingénua.

Que não sentem o peso incomensuravelmente leve do abandono, do recomeço. Que não se sentem enormemente comprometidos perante esta trágica celebração da sua própria existência. A mais pura conspiração do universo para que um nada que se revolva, se faça explodir numa soberania de identidade e presença.

O prazer e o privilégio de cada momento que brota e desaparece no emaranhar inacabado dos dias… Engraçado toda esta tragicidade inerente ao nosso aniversário, a fragilidade com que se corta o bolo, a mortalidade das velas que se apagam, acendem e apagam…

Pode parecer estranho mas penso sempre na morte quando me cantam os parabéns.
E posso garantir que todas as velas são evidentes por si mesmas.


Finalmente a heresia dos 22.
Não podia estar mais feliz.

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