Friday, December 28, 2007

O Pesadelo de Carter


Kevin Carter, Sudão, 1 de Março de 1993 (© CORBIS/Sygma)


"O abutre espera pacientemente o momento para atacar o corpo em agonia de uma criança sudanesa. O fotógrafo, também predador, espera um momento certo para o disparo que garanta o maior dramatismo, o maior impacto à imagem.
Esperam.
Esperam ambos.
No impasse, o fotógrafo desiste, capta a espera do outro e vai-se embora.
Esta fotografia valeu ao sul-africano Kevin Carter um prémio Pulitzer em 1994. Desde que foi publicada na capa do New York Times, transformou-se no seu maior pesadelo. Para onde quer que se voltasse soava a pergunta: e depois, o que é que fizeste para ajudar a criança?”Carter não fez nada e essa decisão acabou por lhe toldar a lucidez e levá-lo ao suicídio, no mesmo ano em que foi galardoado."


in: artephotografica.blogspot.com

6 Comments:

Blogger Hermenêutica said...

Por acaso já tinha visto esta foto num blog do público. Já na altura fiquei aterrada com a imagem e a história por detrás... realmente sou uma pessoa com muita sorte...

12:12 PM  
Blogger RD said...

Quando se vê algo assim, alguém que tenha uma consciência pergunta-se imediatamente «Que fez o fotógrafo?».

Por outro lado, hoje em dia estamos habituados a ver a guerra em directo e coisas do género. Não que isso desculpe qualquer coisa, está claro que não! Mas explica... talvez... Percebemos que o público, na maior parte dos casos, vê este tipo de fotografias, reportagens, etc, como janelas que se abrem sózinhas para um mundo que é real, mas que não o parece por estar muito longe das nossas realidades. Poucos se perguntam como é que tais imagens chegaram aos nossos computadores, televisores e jornais. E então, os próprios fotógrafos se reduzem ao papel de observadores, como espectadores de um grande teatro que não lhes diz respeito. Muitos têm plena consciência do que estão a observar, mas outros constroem tal muro de frieza, que eu penso que acabam por se esquecer da sua prõpria humanidade.

Alguém viu "As flores de Harrisson"?

4:28 PM  
Blogger tchitchilover said...

Moi. ;o) Percebo o que queres dizer.

7:32 PM  
Blogger culpa in abstracto said...

rd concordo totalmente com o que dizes. a imagem nao deixa de ser chocante, mas há que ter consciencia que vivemos numa altura em que as próprias misérias se tornaram estéticas. este tipo de violencia serve exctamente para olharmos para o nosso proprio umbigo e reflectir sobre o caminho que nós ocidentais levamos. africa continua mt longe, la esta, é a tal janela aberta que temos ao nosso dispor na televisao ou em galerias de arte. e independentemente de isto ser reprovável a nivel ético, o facto é que a nossa propria rotina cultural deixaria de fazer sentido se tal assim nao fosse. alias, basta pensar em voces médicos, se se ligassem emocionalmente a todos os casos com que lidam, nao seriam precisos 2 anos para que se sentissem incapazes de exercer a vossa profissao. o ser humano ve-se obrigado a criar barras de frieza para camuflar o absurdo que circunspecta o mundo. e digo mais, é esse absurdo que nos leva a procurar um caminho, e foi talvez isso, o que o fotografo de uma forma chauvinisticamente ocidental quis fazer, arrependendo-se claro de seguida,porque no fim, ha sempre sensiblidades que nao se domesticam. bj grande

8:32 PM  
Blogger RD said...

Percebo o que queres dizer e até concordo com as ideias base, culpa in abstracto, mas tenho que fazer uma ressalva. Nós, médicos, temos que criar um certo distanciamento emocional relativamente aos nossos pacientes, é verdade, mas nunca isso implica que deixemos de sentir emoções e muito menos nos tornemos desumanos. A sensibilidade não se domestica! É a nossa atenção que se concentra num ponto, em vez de se dispersar pelo todo! É isso que nos permite criar a pseudo frieza emocional.

Não pretendo generalizar e chamar desumanos a todos os fotógrafos de catástrofes deste género, mas não consigo deixar de me perguntar... Que espécie de pessoas são? Como conseguem sobreviver a espectáculos daqueles?

Verdade seja dita... Alguém tem que lá estar, para governar aquelas pessoas, para tratá-las, distribuir-lhes comida, medicamentos, roupas, para ensiná-las, para contar as suas histórias... Sim, alguém tem que viver e sobreviver àquilo. Mas isso é completamente diferente de esperar quietamente pela morte de uma criança faminta, para ver a natureza seguir o seu curso...

É um caso bicudo! O trabalho de pessoas como Carter é de suma importância para que o resto do mundo saiba o que se passa. Não podemos crucificar o mensageiro! E no entanto...

Dificilmente poderemos saber o que pensou e sentiu Carter. Imaginá-lo, será ficar sempre aquém. Julgo que ele se achou, subitamente, num dilema e os dilemas, por definição, não têm solução. A única saída que encontrou, foi a que tomou. Terá sido correcto? Fica mais esta pergunta.

11:35 PM  
Blogger tchitchilover said...

como eu gosto destes debates...

5:55 PM  

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