Wednesday, March 14, 2007

Dia Internacional da Mulher

Numa semana em que se festejou o Dia Internacional da Mulher (seja isso o que for), fica aqui apenas uma curiosidade:

2 milhões!

Este é o número de raparigas que são anualmente excisadas.






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Pormenores

11 Comments:

Blogger Unknown said...

"Conta-se que Abraão (ou Ibrahim, em árabe) casou com a bela mas estéril Sara. Foi ela própria que lhe sugeriu que tomasse outra mulher, que lhe desse descendentes. Abraão escolheu Agar, a escrava egípcia, que engravidou. Existem várias versões do fim da história, mas a que interessa para o caso conta que Sara, apercebendo-se do interesse crescente de Abraão por Agar, virou a sua ira contra a escrava, mutilando o seu órgão sexual."
Uma história, um lenda, uma cultura. E quando os direitos humanos chocam com culturas com milhares de anos, não ha uma decisao facil.

1:43 AM  
Blogger tchitchilover said...

Compreendo que outras situações como o uso de símbolos religiosos nas escolas, por exemplo, possam, para quem não for um radical e/ou extremista, levantar questões dificeis entre diferentes culturas. Excisão, não é uma questão dificil uma vez que para mim nem sequer é uma questão.

1:32 AM  
Blogger Unknown said...

Optei por não tomar uma posição. Continuarei assim, mas não posso deixar de te alertar para os perigos de "nem sequer é uma questão".

Que nos dá direito de nos impormos sobre as outras culturas apenas porque NÓS achamos que estão mal? Os Direitos Humanos que NÓS achamos que são os mais correctos? Se assim é, temos o direito de impedir a pena de morte nos estados unidos [tks culpa ;)],obrigar os “meninos da Etiópia” a frequentar escolas, e "despir" as mulheres no Médio Oriente.

Que dirias se "num golpe de magica" o Médio Oriente crescesse como a maior potencia mundial tanto militar como civilizacional e, de tanto lhes repugnar o teu modo de viver, invadissem o teu pais e te obrigassem a usar turbante e te queimassem viva se cometesses adultério?
Eu pessoalmente achava errado, mas...vais tanto contra os "direitos humanos" deles.

A decisão (e sim, há questão) é difícil porque em questão esta a imposição da NOSSA moral contra a sobrevivência de culturas.

Se te dessem uma "mão de ferro" e acabasses com a excisão, acredito que ficasses feliz, orgulhosa e até reconhecida no nosso pequeno mundo ocidental, mas certamente odiada e perseguida em muitos outros sítios.

Fica-te garantido o direito de opinião e de indignação. Mas não faças desse teu direito uma proibição para outros.
No entanto que está mal? Está. Mas quanto ao que fazer.... hum...parece-me que não há uma decisão fácil.

11:08 PM  
Blogger tchitchilover said...

Acredia que subscrevo totalmente o que disseste.Acho que as diferenças culturais, mesmo as que mais nos indignam, têm que ser respeitadas. E as que devem ser alteradas (se é que devem) terão de o ser pelos seus intervenientes e não por civilizações a léguas de distancia que não entendem as suas tradições e crenças. Eu não ponho a questão das burkas (apenas a títutlo de exemplo)nos países árabes porque neste caso para além de muitas vezes, ao contrario do que alguns de nós pensam, ser por sua própria opção, quando não o é, estas já vão tendo alguns poderes para o alterarem. No entanto, a excisão parece-me ultrapassar questões e tradições. É literalmente tortura e praticada em países onde as mulheres não tem outro valor a nao ser o reproductivo. Cortar o clitoris de uma rapariga muitas vezes com um pedaço de vidro de uma garrafa partida é totalmente . Este é o único ponto que me faz desejar a nossa intervenção. Percebo a tua chamada de atenção ao radicalismo mas nesta questão não consigo deixar de o ser.

2:35 AM  
Blogger RD said...

Del_cimetrado

Tens uma argumentação bastante difícil de contestar, tanto pela forma, como pelo conteúdo e não to digo com sarcasmo, mas sim como um elogio.

Contudo, por muito que possa estar de acordo contigo no que respeita à legitimidade de quem decide o que é e o que não é moralmente correcto, assim como a imposição de culturas por meio da força (física ou monetária), a verdade é que, para mim, os Direitos Humanos são os únicos dogmas universais. Acredita, não sou radical, nem gosto de utilizar o conceito de "dogma". No entanto, para se poder falar em respeito pelas culturas alheias à nossa, é preciso que nos respeitemos a nós próprios dentro da nossa cultura. A mutilação genital não é uma mera detalhe cultural! E ainda que na Bíblia, o livro sagrado para tantos, fale nisso, não temos por que assumi-la como verdade incontestável. De certo, não é preciso recordar-te que a Bíblia foi feita por homens e adulterada ao longo dos séculos. Eu sei que parece inacreditável para alguns, mas penso que alguma coisa o ser humano foi evoluindo ao longo dos tempos e é por isso que sou contra algumas coisas que muitas pessoas defendem como tradições: antigamente cometiam-se muitas barbaridades (grande número das quais, em nome de Deus, por parte de muitas religiões); hoje em dia, cometem-se, apenas, um pouco menos. A mutilação genital, a lapidação, entre outras coisas, são muito mais que aspectos culturais ou rtadições que há que respeitar. São atentados à dignidade humana e devem ser tratados por meio da educação e não da força ou do dinheiro. E quando falo em educação, refiro-me a algo dentro dos seus padrões.

Aprecio a humanidade e as suas diferenças. Elas são o que há de bonito na vida e o que tornam a nossa existência interessante, desde que haja respeito.

11:37 PM  
Blogger Unknown said...

Super....és um reles.
Antes de mais... Eu não defendo nenhuma posição quanto a isso. Apenas disse que era uma decisão difícil. A minha subreptícia intenção até era que se abolisse a excisão pelo meio do diálogo. Nisso estou de acordo contigo.

E também estou de acordo que é um atentado aos direitos humanos. Mas para aqui, e pensa que é um atentado aos NOSSOS direitos humanos. Uma vez que vivo no mesmo país que tu é obvio que segundo os direitos que me rejo, acho a excisão errada, mas e se morasse na Guiné? Será que sendo eu na mesma, pensaria como penso aqui?
Coloco-te a questão que coloquei a la Putain (tenho de admitir que este nome próprio me provocou um sorriso).

Se fizesses desaparecer a excisão, quem ficaria contente? Tu? Então não se trata de satisfazer uma condição que é necessária para ti? E então? Isto é egoísmo teu?

Permite-me responder por ti: Claro que não. Estás a tentar impor o que PARA TI é o mais correcto para a humanidade. (volto a frisar que não pretendo defender a excisão ou qualquer outro tal que possa aqui substituir a excisão)

Ou vives num sociedade que te transmite esses valores, ou então só queres mesmo acabar com ele para TU te sentires bem. Uma vez que a segunda opção será errada, ficamos com a primeira, e debaixo da alçada desta, ELES, os que praticam a excisão, fazem-no porque a sociedade em que vivem lhes transmitem esses valores.
E aproveitava agora para te perguntar. Será que eles acham que os valores deles são um Dogma? Eu diria que sim. E acho que já percebeste onde quis chegar.

Aproveito aqui para dizer que não devemos fiar-nos num dogma só porque ele é dogma (ok, isto é fazer do dogma, não-dogma). O problema do dogma é que elo pode ser muito pessoal. Podemos aceitar um dogma, e portanto, pensamos que assim é para toda a gente, e isso é um perigo. Falaste das barbaridades cometidas em nome de Deus, ora bem… passava-se o seguinte:

“Se o meu Deus é todo o poderoso e está do meu lado (dogma), o Deus deles (outros que não eu) só pode ser inferior, (ou o Diabo) e então há que Evangeliza-lo (a bem ou mal).”

Concordas que era assim, certo?

Então faz o seguinte: troca a palavra “Deus” por “Direitos Humanos”.

1:31 PM  
Blogger Unknown said...

*p.s. - Esquece o "super...és um reles" isso seria para ti se o teu nick fosse RHS(q foi o q li), e se fosses portanto um amigo meu, o Super.

1:58 PM  
Blogger RD said...

Del_cimetrado

Super LoL! Fizeste-me rir com o teu post scriptum!

Temos aqui uns detalhes a esclarecer. Primeiro, eu não acredito no meu ou no teu Deus, embora seja isso que a maior parte das pessoas faz. Segundo, o mais importante de tudo, eu percebo onde queres chegar e ainda bem que estamos de acordo, mas creio que o teu raciocínio tem uma falha: mesmo sendo influenciado pelas tradições culturais e religiosas, o ser humano é dotado de algo chamado "livre vontade". Há quem discuta a sua existência.Pessoalmente, sei que ninguém é totalmente livre (nem sequer é isso que está em discussão), mas temos a capacidade de improvisar e inovar e isso é uma forma de liberdade. É verdade que muitas mulheres defendem acerrimamente essas mesmas tradições que nós, aqui em Portugal, consideramos barbaridades, atentados contra os "nossos direitos humanos". Mas tu crês, realmente, que essa é a opinião de todos? Há um factor muito importante a ter em consideração: a evolução! Darwin acertou na mouche não só no que respita à biologia, assim como Einstein acertou com a relatividade do tempo, não só em relação à física. As sociedades evoluem (ou deveriam evoluir) ao longo dos tempos. Na maior parte das vezes, ao longo da História, desgraçadamente, porque uma civilização era mais forte que a outra e a que predominava absorvia a "mais fraca" (hoje em dia, já não tem de ser assim. No entanto,se fores a ver, as mulheres começaram por subir as saias do chão para os tornozelos e aí por diante e agora temos direito a voto e podemos ser Presidente da República ou camionistas, se quisermos. Hoje, há mais pessoas a favor do diálogo que antigamente, sejam quais forem as questões sobre a mesa, porque a humanidade evoluíu alguma coisa. Podem ser passos pequenos, mas foram dados. Instituições como a ONU, são o exemplo disso. Podem não funcionar como seria desejado, mas a ideia básica está lá e isso já é uma grande coisa!

É nesse sentido que discordo de ti. Não há que distinguir os "nossos direitos humanos" dos "deles"! São universais! Não me considero superior a esses povos, porque sei que têm coisas para me ensinar, assim como eu tenho para lhes ensinar a eles. Não existem duas leis da gravidade, nem duas espécies de oxigénio, consoante os povos. Por isso, não acredito que existam deuses distintos. Chamem-lhe o que quiserem: Deus, Jesus, Jeová, Alá... a humanidade continua a querer compartimentar-se, esquecendo-se que somos todos da mesma espécie. Filhos do mesmo pai e da mesma mãe, podem ter cores de olhos e de cabelos diferentes e personalidades distintas (olhem a família Portas: um é de direita e o outro, de esquerda!), mas conituam a ser irmãos.

As diferenças são apreciáveis, desejáveis e saudáveis, mas somente se houver um princípio universal que nos una a todos e isso chama-se Direitos Humanos!

Tem de haver uma base sobre a qual assentar a nossa vida!

É interessantíssimo trocar ideas contigo!

11:12 PM  
Blogger culpa in abstracto said...

vejo que a discussao está produtivamente interessante por estes lados :) eu e o del cimetrado ja passamos horas a falar disto e a conclusao a que chego é bastante semlhante à tua rd.

em primeiro lugar e por mais dificil que seja conceptualmente conceber, temos que ter a humildade de reconhecer que apesar que nós ocidentais sermos infinitamente mais evoluídos no plano tecnológico, nunca o poderemos ser do ponto de vista ético-moral uma vez que nao é possivel haver uma quantificação destes mesmos valores a partir do momento que temos de lidar com uma infinitude de conceitos culturais que nao podem competir entre si.

a questao que se coloca é qual o valor e a legitimidade de se definirem padroes que possam reger uma doutrina de direitos humanos universais sem que os valores de uma cultura se sobreponha às outras. a missao parece-me quase impossivel, apesar de acreditar que a com alguns esforços diplomaticos se possa combater essa utopia.

nesta questao em concreto, a decisao é de facto dificil, uma vez que existe a liberdade efectiva de uma guiniense recusar a excisao. custa-me reduzir isto a estas palavras, mas trata-se apenas de uma acto simbolico e de alguma purificacao espiritual que nos ocidentais nao conseguimos de facto entender.

mas talvez pela brutalidade do acto, que é especialmente mais sensivel para nós mulheres, penso que deveria-se pelo menos nao proibir (porque estariamos indevidamente a impor os nossos valores) mas providenciar alguma informaçao que pudesse de alguma forma esclarecer ou determinar outras formas de pensar.

dando espaço à tolerancia e enaltecendo o valor do diálogo é que a humanidade a meu ver, evolui.

obrigada pelos vossos comments dignificam de facto o blog :)

10:45 PM  
Blogger Unknown said...

Rd.... o que te poderia dizer, de certa forma foi dito pela Culpa. E tambám acredito, pelo que vejo, que não necessito de repetir ou esclarecer nada, pois ja percebeste toda a minha argumentação e assim sendo, a minha posiçao. Apenas temos opiniões diferentes em alguns pontos.
Aproveito também para corrigir umas pequenas falhas na tua argumentaçao... Não podemos confundir "leis da gravidade" e " composição atomica do oxigénio" com direitos humanos. As duas primeiras sao leis descritivas, ou são factos naturais enquanto que os direitos humanos serão mais normativas.......ciências naturais vs ciências humanas. Mai; é quase romantico o teu desejo de ver os povos unidos pelos direitos humanos como principio universal, mas não está consagrado na declaração dos direitos humanos o direito a livre escolha de tradições e religiões? Claro que acho muito dificil conciliar a tradição azteca [aztecas aqui como metafora]de esmagar a cabeça dos povos vizinhos como sacrificio aos deuses com os direitos humanos, mas lá está...voltamos a primeira afirmaçao que aqui quis deixar: Não ha uma decisão facil.

9:50 PM  
Blogger RD said...

Querida Culpa in Abastracto

"É dando espaço à tolerancia e enaltecendo o valor do diálogo que a humanidade, a meu ver, evolui."

Näo podia estar mais de acordo!


Querido Del_cimetrado

Tens razäo, sou uma romântica, uma idealista. Talvez, um dia, as minhas experiências de vida me façam mudar de opiniäo. Mas por agora, continuo a acreditar numa humanidade unida por um princípio universal a que chamamos "Direitos humanos", porque me parece ser esse o caminho para o verdadeiro entendimento. A minha liberdade acaba onde começa a tua e afinal, é disso que se trata, de dar liberdade de escolha àquelas mulheres (neste caso particular), mostrando-lhes que há outras formas de ver a vida.

Resta-me, apenas, dizer-vos...Foi um prazer trocar ideias com vocês! Abençoado o espaço para o diálogo!

5:12 PM  

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